sexta-feira, 8 de julho de 2011

artigo "Espressão Corporal I": Leitura Corporal e a analise das energias - por Tatiane Oliveira

 
Para mim, falar em Expressão Corporal é falar primeiramente em leitura corporal e conseqüentemente falar em sistema de energias.
Acredito que todo trabalho necessita da entrega e da disponibilidade do indivíduo e são estes que vão definir a energia que o trabalho trará em si, logo isso afetará diretamente na leitura corporal de quem está assistindo.
Ao cursar a disciplina de "Expressão Corporal I" durante este semestre, eu pude compreender de maneira mais plena, algumas coisas que não ficaram claras para mim no semestre passado na disciplina de "Consciência Corporal".
Para mim, o corpo é um universo, amplo, completo e sendo este a ferramenta principal do trabalho de ator, é preciso um cuidado e um respeito ainda maiores do que o que se deve ter no cotidiano e nas outras profissões.
Assistindo a um debate após uma leitura dramática, eu ouvi a seguinte frase: "Teatro é uma coisa de energia. E nós que estamos na platéia devemos nos atentar sobre que tipo de energia estamos passando pra quem está no palco...". E isso me despertou inúmeras dúvidas como: Não seria o contrário? Quem está com a bola não é quem está no palco? Não é o espetáculo que vai condicionar a minha energia, e conseqüentemente o tipo de energia eu mandarei de volta?
Lembrei então de um episódio ocorrido no momento de conversa após a uma aula ritual que fizemos, em que eu relevei meu receio de me por à prova, disponível a uma limpeza por parte de outras pessoas, uma vez que não sei qual o tipo de energia está sendo mandada para mim. Então a professora Nina me respondeu com a seguinte frase: "Mas cabe a você filtrar, seja lá qual for o tipo de energia está sendo mandada pra você".
Então concluí que o que há de verdade é uma troca de energias. O espetáculo já traz em si uma informação, uma qualidade de energia, seja na dramaturgia, na interpretação, na sonoplastia, ou no próprio cenário. E assim a platéia responde.
Inicialmente, nas primeiras aulas, eu me perguntei inúmeras vezes: Mas como isso vai me ajudar no teatro? Quando e como eu poderei usar isso?
Só depois é que eu pude compreender, que assim como com toda ferramenta é necessário aprender a manusear o corpo e assim administrar o que podemos fazer, quando munidos de uma boa quantidade de material corporal. E é só através da prática, da experimentação é que se pode adquirir tal material.
Ao começar a trabalhar com o universo do rei, comecei a me atentar quanto a que tipo de rei eu queria corporificar e principalmente em sair daquele registro tipificado de rei, sair da zona de conforto. Era preciso pensar em tudo, em como esse rei anda, respira, se comunica, etc.
Mas o mais interessante era ver após a prática, no debate, como esse rei era visto por quem estava do lado de fora. E principalmente sentir a divergência entre a leitura que era feita e o que eu tinha tencionado representar.
É importante ressaltar que inúmeras coisas eram feitas inconscientemente, e um dos maiores desafios para todos é fazer com que tais coisas sejam conscientes, para que assim possam ser trabalhadas. Afinal, como eu posso contar com algo que nem eu mesma soube que pratiquei?
Não é que essa "inconsciência" seja negativa, muito pelo contrário, eu vejo que tal inconsciência evidencia a entrega da pessoa e muitas vezes isso é marcado até mesmo pelo uso dos olhos fechados. E é nessa entrega que realizamos coisas incríveis.
O fato é que em teatro, se o ator não possui ferramentas, não é uma câmera ou um foco que vai resolver a situação. É minha missão tentar fazer com que vejam um rei. E cabe a mim, com minha leitura corporal, ajudar a platéia a identificar determinados códigos.
Não digo que eu devo moldar a leitura do espectador, nem que ele deve ver aquilo que eu vejo, mas é necessária uma lógica, algo que ajude a delinear a linha de pensamento.
Como o corpo do ator é uma ferramenta, infelizmente estamos sujeitos a inúmeros fatores internos e externos que podem comprometer determinado trabalho, seja de maneira positiva ou negativa. E cabe ao ator, canalizar esta energia que está predominando e utilizá-la a favor do que está sendo feito.
Não digo que seja fácil trabalhar em um dia que você não está bem, mas eu procuro pensar: Como eu posso usar esse desconforto, esse incômodo a favor do meu trabalho?
São perguntas que eu mesma não sei responder, mas que ao longo do tempo vão ganhando respostas, assim como muitas coisas que não tinham significado pra mim foram ganhá-lo só agora.
Expressar-se bem através do corpo no teatro é com certeza uma missão árdua e que requer muita disciplina. Mas no cotidiano, tal expressão é constantemente usada de forma automática.
O seu corpo carrega a sua história, a sua vivência, e isso deixa marcas que revelam quem você é, basta saber ler.

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