quinta-feira, 21 de maio de 2009

Tarefinha de Casa

Onde se inscreve uma Poética Corpórea?
Por Maíra Rosa
Oi galera resolvi compartilhar meu artigo.

O ator deve pensar em primeiro plano que seu instrumento poético é o corpo. Nesse sentido a fundamentação do processo de construção da imagem corporal deve passar por um entendimento do que constitui seus apoios, suas bases assim como, sua totalidade expressiva.
Desta forma , tal corpo deve estar munido de referencias não apenas estéticas mas também técnicas e de uma poética própria na construção de seu fazer teatral. Em Laban[1] esse processo nos é evidenciado pela importância do movimento. É por meio do estudo e da análise do movimento, que o autor em questão ,começa a perceber os benefícios de uma aproximação entre a dança e o teatro.
Essa recriação do corpo em sua totalidade expressiva contribui diretamente na criação da consciência corpórea do ator .
A perspectiva da dinâmica do movimento possui habitualmente uma significação em gestos simples e comuns, entretanto Laban vê a necessidade da recriação e da experiência consciente de novas possibilidades expressivas no interior do teatro e da dança.
"O corpo é nosso instrumento de expressão por via do movimento. O corpo age como uma orquestra, na qual cada seção está relacionada com qualquer das outras e é uma parte do todo. As várias partes podem se combinar para uma ação em concerto ou uma delas poderá executar sozinha um certo movimento como 'solista', enquanto as outras descansam".LABAN, Rudolf von. Domínio do Movimento. São PAulo: Summus, 1978. p. 67.

A relação da ação com o tempo, o espaço e a idéia de peso é crucial para que a significação do gesto do artista passe a ter uma sintonia constante entre seu estado interior e o gesto expresso. A significação do corpo em sua ação expressiva passa a assumir não mais uma mera aceitação aos estímulos de forma habitual , não está inserida no mero natural sendo carregada de um sentido que novamente reforça a idéia de totalidade expressiva.
A organização espaço/temporal passa a ser resignificada por meio do trabalho corporal do ator, que ao compreender esse processo encara as leis da gravidade numa perspectiva que distancia o movimento a mera noções mecânicas, como nos diz Miller[2] ( 2007, p. 56): “ É pelo uso do peso no meu corpo, e não pelo abandono desta, que me oponho à gravidade”.
Neste sentido observar a relação deste corpo dentro de um espaço, que pode ser pessoal ou geral , permiti-nos um transitar conjuntamente em sua relação com o tempo de cada movimento.
A ligação entre o movimento e o corpo , nos parece inferir uma necessidade de expressão humana. Nesse sentido a dança nos oferece por meio de suas possibilidade de movimentação do corpo pelo espaço, sentido únicos, novos , dotados de um sentido de um significado, que no trabalho desenvolvido por Laban aparece nas diferentes formas que o corpo por meio da “versatilidade rítmica” pode assumir . Para dançar era preciso ligar o motor da alma e é dele que se irradia a luz que faz vibrar e mover cada parte do corpo, com maior ou menor intensidade
O corpo do ator ao se colocar no espaço não assume meramente uma aparência antropomórfica com ações mecânicas, mas é pelo movimento dotado de um significado inerente a expressão corporal seja da dança ou do teatro como bem observou Laban, ao nos afirmar que o movimento é uma energia motora que se liga a um principio cósmico , ou seja é pela ação da dança pelo movimento do corpo que a vida se manifesta enquanto significação do e pelo movimento.
Dentro de suas vivencias Laban, percebe que no interior de uma civilização corrompida por uma visão do movimento como mero processo mecânico baseada na necessidade da rapidez , da agitação da cidade , a própria dança começa a assumir um caráter negativo, é no encontro com a harmonização com a natureza, de uma percepção mais apurada do movimento em todos os seus sentidos que Laban vê por meio de sua concepção de movimento a possibilidade de uma reforma não só da compreensão que o artista tem de seu corpo mais uma reforma da concepção de arte em sua sociedade.
Dentro desta poética que permeia o conhecimento corpóreo capaz de resignificar tanto o corpo do ator como também do olhar de seus espectadores. Tornando-os reflexões de uma pulsão comum, que através do movimento reintera como nos afirma Laban, uma “atitude interna”.


[1] Boêmio e intrigante tal autor, buscou através de suas vivencias ousadas, material importante tanto no campo da dança como também no teatro.
[2] Cf. MILLER, Jussara. A escuta do corpo: sistematização da técnica Klauss Vianna. São Paulo: Summus, 2007. p. 56.

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